Capítulo 05

ORE COMO UM GOUMET – David Brazzeal

CAPÍTULO 5

MISTURANDO TUDO

“Por que as pessoas precisam se ajoelhar pra orar?
Se eu quisesse de fato orar, eis o que eu faria:
Iria até um campo muito, muito grande, sozinha,
ou então entraria numa floresta muito, muito profunda
e olharia para o céu, bem, bem, bem alto
para aquele céu tão adorável e azul que parece não ter fim.
Então eu simplesmente sentiria uma oração.”
― L. M. Montgomery, Anne de Green Gables

O BÁSICO

Antes de falarmos sobre receitas de oração específicas, eis aqui duas perguntas essenciais que geralmente vêm à nossa mente quando começamos a orar:

1. Que tipos de oração são possíveis?
2. Que meios de expressão são possíveis?

A resposta à primeira pergunta são alguns tipos de oração que você já deve conhecer, assim como algumas que podem não ser tão familiares. Quando adolescente, alguém me ensinou a orar com o acrônimo ACTS (“atos” em Inglês):

Adoração ou louvor 
Confissão
Ter gratidão 
Súplica ou petição

Estas quatro são definitivamente as clássicas. Um bom começo, mas com amadurecimento, necessidade e talvez tédio, eu adicionei:

Observação, Intercessão, Meditação, Contemplação

E nos últimos anos adicionei mais alguns:

Bendizer, Lamentar, Ligar-se a Deus

Estes são possíveis pratos para um banquete espiritual. Fornecem uma grande gama de sabores com os quais você pode trabalhar, mas certamente há outras variantes por aí para serem descobertas. Cada uma dessas práticas é diferente, às vezes de maneiras sutis. Cada uma traz consigo sabores e texturas únicas à sua experiência de oração. Dependendo de seu humor, circunstâncias, necessidades, clima espiritual e outros fatores, a mistura destes ingredientes poderá variar. Deixe que eles sirvam a você. Alguns você talvez use com frequência. Outros, assim como bons amigos, estarão sempre perto para quando precisarmos deles. Raramente, ou nunca, você incluirá todos eles de uma só vez numa experiência.

O que quer que você faça para passar um tempo concentrado com Deus, e quando quer que você faça isto, é uma boa ideia primeiro dividir esta experiência em vários pratos, componentes, práticas—como você quiser chamar. Pegue alguns elementos para criar a experiência de oração que você precisa. Então, assim como numa refeição elegante, vagarosamente experimente prato após prato—cada um diferente do outro—cada um banhando e massageando o paladar de sua alma de sua forma particular.

O benefício imediato que você sentirá será uma sensação nova na variedade e diversidade no seu tempo de oração. O benefício secundário será que suas orações se tornarão menos egocêntricas e egoístas, porque a maior parte dos pratos acima focam na pessoa de Deus ou em outras pessoas, e isso é uma coisa boa.

Agora que os vários “pratos” de oração estão postos diante de você, a resposta para a segunda pergunta sobre os possíveis meios de expressão vem à tona. A ideia aqui é sair daquele modo padrão que você tem usado para orar, que para muitos é aquela velha rotina do “curvar a cabeça e fechar os olhos”. Ao longo dos anos eu aprendi uma boa variedade de alternativas possíveis:

Posso falar.
Posso ler.
Posso gritar.
Posso me calar.
Posso ficar parado.
Posso sentar, levantar, ajoelhar, deitar, mexer, pular, dançar…
Posso recitar um hino antigo ou improvisar um novo cântico.
Posso escrever prosa ou poesia.
Posso esboçar, desenhar, rabiscar, pintar, colar…
Posso usar papel liso ou com textura ou papel nenhum.
Posso usar um lápis ou hidrocor, ou caneta de caligrafia e tinta.
Posso usar um caderno barato ou caro ou criar um caderno.
Posso acender a lareira, uma fogueira ou incenso.
Posso tocar música num CD player ou no mp3 player ou no streaming.
Posso tocar música no meu violão, piano, ukulele ou tambores.
Posso tocar sinos ou fazer uma taça de oração soar.
Posso andar pra frente e pra trás numa sala ou num labirinto ou até mesmo no meu bairro.
Posso fazer praticamente o que eu quiser.

Captou a ideia? O cheiro? O som? A sensação? Talvez até o sabor? Tá sentindo o envolvimento potencial de todo seu corpo e alma nessa experiência?

A REDE

Teoricamente, uma rede mental começa a se desenvolver se você listar em uma direção os tipos de oração e na outra direção as diferentes formas criativas que você pode usar para orar. O resultado é uma variedade incrível de possibilidades quase infinitas. Não haverá mais motivo para dizer que a oração é sinônimo de “tédio”.

Quando você começar a juntar tudo, uma amostra de uma experiência de oração pode parecer com isso:

Louvor – cantando uma nova melodia com um Salmo de adoração 
Agradecimento – desenhando símbolos de coisas, pessoas e eventos 
Confissão – lendo uma confissão antiga
Intercessão – rabiscando nomes de amigos e suas necessidades 
Contemplação – acendendo uma vela e ficando parado
Ligar-se a Deus – levantando as mãos aos céus, expressando o desejo de se ligar a Deus e sua obra na terra

Tudo que falta agora é você fazer sua prática pessoal e experimentação. Os capítulos seguintes darão a você ideias sólidas para você usar e te permitirão criar suas próprias variações. Eu realmente quero te encorajar a fazer este experimento, de tentar descobrir o que funciona pra você, mas também sair da sua zona de conforto, se abrir para fazer uso de coisas que você jamais pensaria que sabe fazer bem ou que antes não associaria com a oração.

Sei que algumas coisas na lista acima podem ser intimidadoras: improvisação, poesia, esboços, dança… ufa! Mas como um compositor formado, eu dizia por muito tempo: —Eu faço música, não letras.— querendo dizer que eu jamais me senti competente o suficiente pra pôr letra em minhas melodias. Através do uso de palavras e textos para me expressar em meus momentos de oração, eu acabei me surpreendendo ao entrar no mundo da poesia, que me levou a publicar meus próprios textos, chegando até este livro. Voilà!